domingo, 21 de abril de 2013

Domingos


   Num certo domingo de tarde, eu estava lendo o livro de crônicas Aruanda, escrito pela eterna Eneida de Moraes e, no capítulo intitulado Pé de Cachimbo, a paraense discorre sobre o dia de domingo, os sabores e dissabores desse dia tão único - seja para o bem, seja para o mal. Decidi, então, escrever um pouco sobre os domingos na capital paraense, relembrando um pouco a minha infância, época em que eu achava que esse dia era o mais chato da semana. Hoje vejo que este é um momento especial para os que moram em Belém, pois os costumes que existem nesse dia são únicos, unicamente amazônicos, paraenses e belemenses. 
   O domingo é aquele dia bem inusitado, a gente não quer que ele comece, mas também torce pra não acabar tão cedo. Em Belém não é diferente, mas alguns aspectos locais tornam esse dia um pouco mais especial. 
   Logo cedo a gente compra o jornal do dia. Ou vamos naquela banca da esquina, ou esperamos o gazeteiro passar vendendo O Liberal, o Amazônia ou o Diário do Pará. Jornal dia de domingo é mais legal: tem agendas culturais, cadernos pras crianças, pras mulheres, tem a revista da TV, as colunas sociais e até algumas crônicas - não poderia ser melhor. Comprado o jornal, pulamos para o café da manhã. 
    Como é o café do domingo?
   Não pode faltar aquela tapioquinha com manteiga ou a banhada no leite de coco, sobre a folha da bananeira. Chato é ir nas casas de tapiocas e encontrar enormes filas pra comprar o produto. Mas pensando bem, é algo que só em Belém tem, é uma tradição que perdura desde o início do século passado: as senhoras fazem as tapiocas no próprio fogão, no máximo com a ajuda dos filhos e, como o produto é gostoso, sempre lota. Então, voltamos para casa, arrumamos a mesa, acordamos todo mundo e vamos tomar o café, comer as tapioquinhas e quem sabe até um cuscuz? Eu nunca fui muito fã desse prato, preferia a tapioca com manteiga e um pãozinho bem quente. Depois os nossos pais sentavam nos sofás, abriam os jornais e ficavam lendo. Liam, liam e liam por horas. Na TV só tem porcaria, até nas por assinatura - domingo é um péssimo dia para se assistir televisão.
    E à tarde, fazer o que? Muita gente saiu da cidade pra curtir o fim de semana em Mosqueiro, Cotijuba, Salinas, Vigia... Belém fica vazia, vazia. Se a chuva não caiu ainda, o calor então está pegando. A cidade está mais calma e silenciosa e nós podemos ir almoçar fora sem muitos transtornos. Tem o Pomme D'or lá do Parque da Residência, o Estação Gourmet, na Magalhães Barata, o Spazzio Verdi com aquela comida tradicionalmente deliciosa ali na Brás de Aguiar e os Remansos (do Peixe e do Bosque) no Marco, se tu tiveres um dinheirinho a mais no bolso. Tem também as famosas e boas churrascarias da Augusto Montenegro e, claro, aquelas peixarias que a gente só encontra na orla de Icoaraci.
    Shopping? Não, não. Domingo não é dia de shopping, a não ser que seja pra um cineminha. Hoje em dia a gente só encontra cinemas de rede nos shoppings. Mas existem outros lazeres. Que tal uma água de coco no trapiche de Icoaraci? Um passeio no Parque dos Igarapés? Uma volta pela Estação (das Docas)? Pegar um ventinho gostoso no Portal da Amazônia/Orla de Belém? Curtir um pouco a praça da República e comprar algumas coisas na feirinha dominical? Podemos até relaxar um pouco na praça Batista Campos. É só escolher, só não se diverte quem não quer.
    O sol vai se pondo e se a gente estiver perto das muitas orlas, não dá pra não curtir esse espetáculo, tomar um sorvetinho depois - Ice Bode e Cairu são pai d'égua - e aí sim, a gente volta pra casa. 
    Um dia chato, um dia monótono? Não em Belém! Os domingos mangueirosos são sempre inovadores, sempre tem algo pra se fazer. Se, com todas as opções, você não tá afim de sair de casa, com certeza você está recebendo os parentes pra um almoço, né? Ou então você tá indo visitar aquele primo na Pedreira ou sua tia em Nazaré...


sexta-feira, 29 de março de 2013

Um Passeio de Barco


Morei por quatro anos num lugar chamado Vila dos Cabanos, também conhecido como a Nova Barcarena, distrito do município de Barcarena. Quase todo mês eu ia com a minha mãe para Belém, fosse para visitar os parentes ou somente para comprar aquelas coisinhas que a gente só encontra na capital.
Para chegar até Belém, nós íamos sempre de barco, já que a Alça Viária ainda não havia sido construída. Lancha, barco e balsa... quando o meu pai ainda morava conosco, sempre pegávamos a balsa. Nos outros momentos, geralmente usávamos a lancha por ser mais rápida. Em menos de 50min a gente já estava na mangueirosa. Mas o que eu gostava mesmo era do barco, se eu não me engano, a empresa era a Jacumã.

O barco era grande, tinha dois andares e saía do porto rumo à Belém sempre naquele vento constante. Durante a viagem - que levava em torno de 1h10min - passávamos por diversas ilhas e, nessas ilhas, eu podia ver aquelas casinhas lá ao longe, no meio da mata, longe de tudo. Ficava me perguntando sobre como seria a vida das pessoas que ali moravam, se eram felizes... nunca consegui entender como aquelas pessoas preferiam morar no meio do "nada", a ficar em um centro urbano. Hoje em dia, obviamente, meu pensamento já mudou. Algo que eu adorava ver eram aquelas enormes torres de energia que atravessavam os rios. Achava aquilo uma coisa fantástica, linda.
De vez em quando, aquelas canoas passavam ao lado do barco grande, os ribeirinhos ficavam acenando e as pessoas retribuíam o aceno - é algo bastante único, que talvez só seja encontrado na região amazônica.
Ah, já ia me esquecendo. Imagina só se eu ia deixar de falar dos mururés, aquelas plantinhas que ficam boiando nos rios. Mas lá era meio que diferente. No caminho para a cidade a gente encontra um conjunto desses mururés boiando, tornando a paisagem ainda mais bonita, pra mim. Era engraçado porque eu via aquilo e morria de vontade de tomar banho ao lado de um daqueles, adoro o contato do verde com a água. Por isso, a minha mãe ficava me dizendo "mas meu filho, isso daí é comida de jacaré, fica cheio de jacaré embaixo desses mururés só esperando a perninha das crianças que mergulham lá perto" - logo, eu ficava morrendo de medo.
Passado um tempo, eu subia para a lanchonete do barco, comprava um cheetos e voltava pra perto da minha mãe para admirar a beleza dos rios e das ilhas. Lembro de uma viagem, em especial, em que o boné que eu estava usando voou pra longe, por causa dos fortes ventos. Nessa hora, já conseguia avistar Belém lá ao longe, os prédios tão pequenos iam ficando maiores a cada momento. A cidade se aproximava e eu me animava porque ia poder chegar logo na casa da minha tia, ia poder ir ao shopping e também passear na Praça Batista Campos. Anos e anos depois, estou aqui escrevendo sobre estes bons momentos. Não vou mentir, sinto saudade dessas viagens de barco, mas só das de barco - a balsa demorava demais no percurso e eu fiquei traumatizado com a lancha porque uma em que eu estava acabou afundando em um dos "furos", sorte que ninguém morreu e vinha uma outra lancha logo atrás - sinto saudade de ter esse contato mais íntimo com os rios. E também fico aqui me perguntando... por onde anda aquele boné?

domingo, 17 de março de 2013

Aquele pãozinho de tardinha na Sagres


    Em uma das minhas habituais férias em Belém, minha mãe havia me prometido me levar a uma padaria na av. Serzedêlo, esquina da rua dos Caripunas, no bairro de Batista Campos. Dia vai, dia vem, faltavam só mais dez dias na cidade das mangueiras quando eu lembrei e cobrei que a mamãe me levasse pra conhecer aquele lugar que ela tanto tinha curtido.
   Saímos do bairro de Nazaré, onde eu estava "hospedado" e seguimos rumo à Batista Campos, via Mundurucus. Em janeiro, por causa das chuvas, a temperatura da cidade começa a amenizar um pouco, principalmente de tardinha, com aquela briza ótima que deixa tudo muito bem agradável. Cada passada pela rua era uma lembrança diferente. Os prédios antigos dos quais eu me lembrava ainda estavam ali, todos remetendo à excelentes lembranças da minha infância - melhor ainda foi reviver este percurso, uma vez que, quando eu morava em Belém, quando criança, sempre ia do meu apartamento andando até a casa da minha tia à pé, pela Mundurucus. 
    Infelizmente, aquela parte da Mundurucus não é tão arborizada como deveria ser - fica melhor lá pras bandas do horto. Mas continuando... chegamos na altura da Quintino (Bocaiúva) e rumamos para a Pariquis. Tu vais conhecer agora um lado do teu tão querido bairro de Batista Campos que tu ainda não conheces, disse logo a minha mãe. Como eu adoro andar pelas ruas de Belém, principalmente naquele meio onde eu fui criado, aceitei numa boa e fomos seguindo o nosso caminho até a padaria pela Pariquis. Chegando à Dr. Moraes, dobramos e chegamos, finalmente à Caripunas. Lá, a minha mãe me mostrou o lugar onde ela morou por alguns anos. A casa já não existia mais, agora apenas um boteco que, além de cervejas, vende açaí e chop (dindin, geladinho, sacolé...), mais adiante morava uma velha senhora, cujo neto fora há algumas décadas um perigoso bandido das redondezas.


    Em uma casinha ouvimos um [...] eu vou sambar com a mais querida do Pará, não posso me amofinar, não posso me amofinar. No meu tempero tem jambu e tacacá, não posso me amofinar, não posso me amofinar , característica marchinha de carnaval da escola de samba Rancho Não Posso me Amofinar e, a minha mãe como boa torcedora do Rancho, cantou e ainda fez uma dancinha, tirando boas risadas minhas e dos moradores da casinha, que também dançaram na hora.
     Continuamos nossa jornada para a padaria e eu ia me encanto demais com aquelas ruas, principalmente com a Caripunas. Era realmente uma outra parte de Batista Campos que eu ainda não tinha passado. Após esse momento, a minha paixão por esse bairro só aumentou. Finalmente chegamos à padaria, um lugar bonito, agradável, cheiroso - aquele cheirinho ótimo do pão que acabou se sair do forno - pedimos alguns pães carecas e também um quitute chamado "delícia de parmesão" (no qual eles não economizam, para a minha felicidade, no recheio de parmesão). Depois, voltamos para a casa da minha tia e eu passei o resto da noite pensando e lembrando desta tarde maravilhosa e de ter conhecido mais um lado dessa cidade que eu tanto amo, Belém.
     Outro dia, voltei à Sagres com a minha mãe e fomos por caminhos diferentes, conheci a Timbiras, o outro lado da Serzedêlo, a Apinagés (que é a minha mais nova paixão em Belém), a Tupinambás e a Roberto Camelier, porque eu também queria conhecer aquela parte do Jurunas. Mas isso fica pra eu contar em outro momento.


quinta-feira, 7 de março de 2013

UM PASSEIO PELA ESTAÇÃO

Antes de tudo, acho que é de grande importância esclarecer à todos os leitores o que é a Estação das Docas. O Complexo turístico da Estação das Docas está localizado na avenida Boulevard Castilhos França,  bairro da Campina, em Belém. Inaugurado no ano de 2000, fazem parte do complexo três grandes armazéns, antes pertencentes à CDP (Companhia de Docas do Pará). Este complexo reúne de tudo, um pouco: cada armazém recebe um nome e proporciona aos seus visitantes uma experiência sempre nova, boa e inesquecível. 
O Armazém 1 é o Boulevard das Artes | neste armazém, encontramos vários quiosques de excelentes cafés da cidade, como o da Cairu e o das Mulatas. Também é possível ler um pouco da história do local em vários pôsteres e usufruir de excelentes lojas de roupas e artesanato regional. Além disso tudo, é nele que está localizada a cervejaria Amazon Beer.
O Armazém 2 é o Boulevard da Gastronomia | lá, é possível encontrar vários dos melhores restaurantes de Belém, como o Lá em Casa e o Pomme D'Or, assim como um quiosque da Cairu, eleita pela VEJA Belém como a melhor sorveteria da cidade.
O Armazém 3 é o Boulevard das Feiras e Exposições | local onde são feitas diversas exposições culturais, como por exemplo, a exposição do Miriti das Águas, ocorrida em 2012. Nele também está o cine-teatro Maria Sylvia Nunes, abrigo de filmes do circuito alternativo da cidade.
Há ainda, na Estação, um terminal de passageiros, normalmente utilizado pela empresa de turismo Vale Verde, para passeios de barco ao redor da cidade e entre as ilhas e o anfiteatro Forte de São Pedro Nolasco. Agora vamos dar início a nossa história...


Alfredo está se arrumando para pegar o seu carro e ir tomar um sorvete; Davi quer ir comprar um DVD da Lucinha Bastos e também está louco por uma camisa linda com a bandeira do Pará para a sua sobrinha que mora no Rio de Janeiro; Pedro, Analice e Rodolfo, amigos da faculdade, estão indo tomar umas cervejinhas no fim de tarde pra curtir a happy hour; e Eliana já está saindo de casa pra curtir ao lado do namorado um filme argentino que não está passando no circuito corriqueiro dos cinemas de Belém. O que todos eles tem em comum no momento? Estão todos se dirigindo para a Estação das Docas, carinhosamente chamada de Estação, por aqueles que a amam e, Estação das Dondocas, por aqueles que a desdenham sem motivos relevantes.


O sol já está se pondo na cidade de Belém, os sinos da Basílica de Nazaré já badalaram marcando as 18h. Eliana logo apressa o namorado para que saiam o quanto antes de casa ou vão perder aquele filme argentino que só está passando no cine-teatro Maria Sylvia Nunes, na Estação.
- Égua, amor, vamos logo. Tu sabes que essa hora o trânsito tá que tá. Acho que é melhor irmos pela Assis de Vasconcelos pra chegar mais rápido.
O namorado não estava muito interessado no filme, mas como ele não estava nem um pouco afim de discutir com a Eliana, aceitou o convite sem retrucar. Além do mais, era sempre muito bom sair daquele apartamento e ir pegar uma briza no calçadão da Estação.

Enquanto isso, lá no Guamá, três estudantes do curso de jornalismo entram num táxi em frente à UFPA e rumam pra Estação.
- Poxa Analice, eu sei que tu não gostas de cerveja, mas hoje é sexta e a gente tem que aproveitar esse finzinho de tarde e ir comemorar, já que tu és nova na cidade, a gente vai te levar numa cervejaria que é o que há. Tem cerveja de bacuri, tem de taperebá, diz que tem uma nova até de açaí, acreditas?
- Cerveja de açaí? - brada Analice - desse jeito eu fico já doida pra provar, Pedro.
E o amigo Rodolfo, comenta - eu fiquei sabendo que o Gustavo... sim, aquele gordinho do segundo período, o que tá aplicando na Lúcia, ele disse que foi lá com ela e pediram essa de açaí, uma delícia!
  

Davi estava de passagem por Belém, foi apresentar uns projetos na cidade e prometeu levar vários presentes pra sua sobrinha, no Rio de Janeiro. Ficou hospedado num hotel ali no início da Duque, onde descobriu uma excelente cantora da região, Lucinha Bastos. Logo ficou louco por um dvd de um show dela e informaram que vendia lá na Na Figueredo, tinha uma na Gentil e outra na Estação. Como já tinha ouvido falar em Estação das Docas e não fazia a menor ideia do que era a "Gentil", decidiu dar uma passada lá pra comprar tudo de uma vez.

E, por fim, temos Alfredo, que louco pra provar um sorvete de chocolate com pimenta, foi de carro até a Estação só pra provar a nova iguaria da Cairu e aproveitar pra curtir aquele pôr-do-sol lindo na Baía do Guajará.

Todos chegaram por volta das 18:30, ainda à tempo de ver o espetáculo do pôr-do-sol. Eliana foi direto pra bilheteria do Maria Sylvia Nunes comprar os ingressos e meia hora depois, entrou na sala com o seu namorado para assistirem aquele bendito filme argentino.

Pedro, Analice e Rodolfo foram direto sentar numa mesa no espaço da cervejaria Amazon Beer. Cada um pediu um sabor diferente. O Pedro quis a de bacuri, o Rodolfo preferiu começar com a River, de um sabor tradicional, mas suave e a Analice, claro, provou logo a de Açaí e adorou. Ficaram os três lá dentro, aproveitando o ar condicionado do Armazém 1, olhando aquela imensa e misteriosa Baía do Guajará e a noite chegando, os barquinhos passando e os aviões, lá ao longe, sobrevoando a Ilha das Onças, já na rota para o pouso no Aeroporto Internacional de Belém.
Discussão vai, discussão vem, os assuntos eram os mais variados. 
- Já pagaram aquela disciplina? É um saco! 
- O Gustavo tá mesmo aplicando na pipira? 
- ÉÉÉGUA, mana, tu ainda não foste curtir um sertanejo lá no Palafitas? 
- E aquela esfirra de pirarucu com jambu lá da Portinha? 
- Portinha? 
- Sim, aquela ali na Cidade Velha.
- Falando na Cidade Velha, ouviram falar daquele cara que disse ser atacado por um homúnculo, no largo da Sé?
- Largo da Sé? Eras, mano, tás ficando velho, ein. Aquele lugar mudou de nome pra Praça Frei Caetano Brandão desde que eu me entendo por gente. Mas sim, que homúnculo é esse?
- Ah, sei lá, só mais uma dessas histórias de visagens...



Já o Davi, quando chegou, se impressionou com aquela vista. Então é isso... que lugar lindo, que paz, que tranquilidade. Perdeu a noção do tempo, quando percebeu, já tinha escurecido. Entrou no Armazém 1 e subiu as escadas rolantes. Quantas lojas. Ah! Achei! Essa camisa vai ficar linda nela. Gostei do nome dessa loja, Tapuia, hehehe. Ah, essa é a Na Figueredo. Não acredito, achei o DVD da Lucinha, vou comprar.

E o Alfredo? Ah, esse foi logo tomar o seu sorvete de chocolate com pimenta. Mas quem disse que ele conseguiu se contentar só com um sabor? Pediu logo três bolas. Misturou com sorvete de açaí e de ovomaltine. Sentou numa cadeira ao lado do quiosque da Cairu e assistiu o sol se despedindo. Depois de terminado o sorvete, atravessou para o Armazém do lado e pediu uma cuia daquelas de tacacá bem quente nas Mulatas. Era noite de sexta e ele não tinha nada de importante para fazer na manhã do dia seguinte, além de dormir. Decidiu ficar mais um pouco até receber uma ligação de uns amigos parar se encontrar mais tarde com eles num barzinho novo na Wandenkolk.

Davi comprou o que tinha que comprar e desceu para pegar um táxi e voltar pro seu hotel. Tinha que arrumar as malas, já que pegava seu vôo de volta pro Rio de Janeiro logo cedo. Eliana e o namorado saíram da sessão felizes. Ela adorou o filme, ele dormiu um pouco, mas conseguiu acordar antes do fim e disfarçou. Notaram que começava a chuviscar na capital paraense. Entraram logo no no carro e voltaram pro apartamento deles, queriam descansar porque naquela manhã eles iam cedinho pra Mosqueiro com a família dele.

E os três amigos continuaram ali. Bebendo, petiscando uns pasteis ótimos de charque defumado. O Rodolfo resolveu experimentar a cerveja de açaí, mas não gostou. O Pedro entrou na onda do chopp e tomou vários, até um de menta. A Analice não quis outra coisa além da cervejinha de açaí dela, nem quis provar as outras. A conversa rolou até quase umas 22h. Pagaram a conta e foram pegar um táxi na porta. Tiveram que correr porque a chuva tava engrossando. O Pedro, que tinha tomado umas a mais, quase caía naquelas pedras antigas que cobriam a rua, mas foi amparado pelos amigos que não se aguentavam de tanto rir. Entraram no táxi e foram para as suas casas.
- Pois é... a Estação. A sempre e bela Estação. Não tem lugar melhor aqui em Belém, tem? A tarde foi pai d'égua, a gente tem que repetir isso mais vezes, topam voltar na sexta que vem?
- Mas é claro!

quarta-feira, 6 de março de 2013

Esse rio é minha rua, minha e tua mururé ♫


O que o rio representa ao paraense? Qual o sentimento ao olhar as pequenas marolas que o vento forma no rio Guamá ou na Baía do Guajará? Esse rio ainda é a minha rua? No meio de tanto desenvolvimento, tanto progresso e com o futuro chegando, ainda existe o olhar para o rio de forma essencial para a vida do povo de Belém?


É óbvio que sim. Belém cresce, Belém se desenvolve para os lados, para cima e não esquece (ainda bem) dos rios que a cercam. Não esquece a importância da Baía do Guajará ali em frente da Feliz Lusitânia e da Estação. Programa bom no fim da tarde é passear pelo complexo do Ver-O-Rio e aproveitar aquele ventinho bom que vem de lá. No domingo a gente vai pra um barzinho no Telégrafo (já com fio...) na beira da baía olhar os popopôs passando, as lanchas indo e vindo. O que dizer de dar uma volta lá na Nova Orla de Belém, no Jurunas? Tudo bem que ainda não está devidamente arborizada, mas quando a noite vem chegando, o local é tiro e queda - tem calçadão, tem barezinhos, tem quadra de vôlei, de futebol, tem brinquedos e tem, é claro, o rio Guamá.


O transporte fluvial é parte, também, da vida do belemense (ou belenense, ou morenense, ou mangueiroso... ou como preferirem). Todos os dias dezenas de barcos partem dos portos da cidade, saem lá do Jurunas e da Cidade Velha com destino à Barcarena, Vila do Conde, Moju, São Domingos do Capim; saem dali do porto da cidade, no Reduto, com destino pra Soure, Santarém, Manaus, Macapá; saem dali de Icoaraci, de Outeiro para Cotijuba, até para Limoeiro do Ajuru. 
Mas e quanto à vista? A cidade que crescia de costas para os rios, hoje está percebendo este pavoroso erro e começa a abrir suas janelas para o Guamá e Guajará. Tem cada apartamento ali no Umarizal de frente pra baía que, égua, quem me dera ter pelo menos um. E esses novos que estão planejando construir no Jurunas, de frente pra Nova Orla? Um prédio mais lindo que o outro. Belém mostra-se uma cidade extremamente rica. Rica em cultura, em belezas, em história, em agitações, em gastronomia, em comércio. Belém é uma cidade privilegiada pela sua geografia. É quente, mas suas belezas são mais fortes, as sombras das árvores amenizam o calor e os rios que banham a cidade são sempre lindos, lindos, lindos. A baía do Guajará, rio Guamá e o rio Maguari tornam Belém, além de cidade das mangueiras, a cidade das águas, a cidade dos rios.


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Raios e Trovões


Ah, os dias chuvosos em Belém... corriqueiros, sempre cai aquela chuvinha. Pode até nem ser um toró, mas pelo menos um chuvisco de madrugada cai. Mas, quando as nuvens escurecem, o dia vira noite na capital paraense e a população vê que ela "vem chegando", pode se preparar porque esse toró vai ser pai d'égua.


Para o pequeno Davi, de 7 anos, a chuva é algo que faz parte da sua vida. 
Todo dia tem que chover pra espantar o calor, mas pra ser completa, tem que ter raio e trovão. Mas longe de mim.
Estudando no bairro de Nazaré, mas morando em Batista Campos, todos os dias ele faz o mesmo trajeto com a mãe, até a sua casa, no fim da tarde. Nos dias de chuva forte, leva a sua capinha pra protegê-lo da água. Quando chega em casa - um apartamento no décimo segundo andar - vai correndo tomar um banho, enquanto a mãe prepara aquele chocolate quente. Os dois então vão pra varanda e ficam olhando o rio Guamá e a chuva que cai sobre o mesmo. Olham os raios ao longe e contam quantos segundos afastam o clarão do barulho do trovão. 
Por quê? Ah, a vovó me disse que pra eu saber a distância em quilômetros de onde o raio caiu até onde eu estou, tenho que contar quantos segundos levam desde o clarão, até o trovão ecoar.


Tem gente que tem medo do barulho do trovão, mas o Davi não. Aliás, pra ele, é um som de conforto, é um momento de paz, é um complemento para as tardes, manhãs e noites chuvosas da cidade. Sem trovão, a chuva não é chuva.
Aonde os raios caem? Lá pras bandas das ilhas, a do Combu, a das Onças, da pra ver raio caindo até em Barcarena, tudo do outro lado do rio e da baía.
Quando o Davi conta que gosta de ver a chuva lá da varanda, os raios e do som das trovoadas, ninguém acredita, uns até criticam. Mas como pode? Morro de medo desse barulho. Ihhh, tem muito relâmpago no céu, cobre os espelhos, Flávia, calça o chinelo, Pedro. Sai da cozinha Uiara, não pega em nada de metal que tá relampejando. 
Davi continua a sua vida, continua estudando, continua percorrendo o mesmo caminho de casa pro colégio e do colégio pra casa, todos os dias. Quando ele tem sorte, dá até pra pegar umas mangas no chão, tem cada uma mais bonita que a outra... e quanto a chuva? Que continue caindo, que continue fazendo parte da vida do Davi, da Flávia, do Pedro, da Uiara e de Belém. 
Ainda tens medo de trovão? Não te abate... os raios caíram lá pras bandas de depois do rio.


sábado, 16 de fevereiro de 2013

As saudades do Cemitério da Soledade


Em meio ao bucólico bairro de Batista Campos, na av. Serzedelo Corrêa, encontra-se o inóspito, rico e pacífico Cemitério da Soladade, talvez o mais antigo de Belém. Foi desativado em 1880 pelo então presidente da província do Pará, José Coelho da Gama Abreu. Este cemitério foi reduto das maiores, mais tradicionais e abastadas famílias de Belém, seus mausoléus são um patrimônio à parte. Tombado em 1964 como Patrimônio Histórico e Paisagístico pelo IPHAN, o cemitério tem uma arquitetura rica - art nouveau - e um clima um tanto quanto interessante, margeado de mangueiras. Andar de tardinha por lá é sentir-se em um daqueles cemitérios europeus que sempre vemos em algum filme de terror.


Encontramos túmulos de figuras ilustres como o do Barão de Igarapé-Miri e aqueles outros os quais atribuem-se milagres, como o da Preta Domingas, Raimundinha Picanço, menino Cícero etc. As visitas podem ser feitas às segundas-feiras. Chegando lá, encontramos sempre várias pessoas com suas velas acesas, depositando sua fé, sentimento, problemas, angústias e esperanças naqueles que já não vivem entre nós - pelo menos em carne e osso.


Mas e quanto a visagem? Ah, que nada, as almas que estão alí, permanecem em paz, estão todas descansando. Dona Mariana jura de pé junto que prefere passar uma noite inteirinha no cemitério da Soledade à uma noite na Beneficente Portuguesa. Já a dona Berta tem uma fé danada na Raimundinha Picanço e, por esta ser um espírito de paz, sabe que não vai ter visagem nenhuma por lá.


Bom também são as mangas que caem dentro e fora do cemitério... o Rudá (sim, esse que vos escreve) e a mãe, uma vez, pegaram uma sacola cheinha de manga quando foram para o culto das almas. Os mais velhos contam que as mangas do cemitério são mais gostosas porque são cadavericamente bem adubadas, será mesmo? Tem gente que só compra as manguinhas da feira de Batista Campos, alí na Dr. Moraes... e as mangueiras de onde essas mangas são colhidas estão aonde? No Soledade, é claro.


Após ter feito as novenas, as orações e pegado umas mangas, o melhor a fazer é ir pra casa, enquanto a tarde acaba e deixar os residentes desse lugar descansarem um pouco, até a próxima segunda-feira. Agora vou dar uma passadinha alí na Cairu e tomar aquele sorvete de açaí, afinal, ninguém é ferro e a sorveteria fica bem pertinho.


Av. Nazaré: Caminhar

 Ir à Belém e não caminhar pela Avenida Nazaré é o mesmo que ir à Nova York e não conhecer Manhattan. Passear pelos túneis de mangueiras centenárias, protegido do sol é um convite para conhecer a história e o desenvolvimento da cidade de Belém. Antigamente conhecida como Caminho da Utinga, hoje, uma das mais importantes da cidade, princpal do Bairro de Nazaré, tem em seu nome uma homenagem à padroeira do estado do Pará. Seu movimento é intenso, nunca pára. É assim de segunda a segunda. Seu início se dá no fim da rua Gama de Abreu, em frente ao histórico e majestoso ed. Manoel Pinto da Silva e termina na esquina da tv. 14 de março (dando lugar à av. Magalhães Barata, já no bairro de São Brás).
 Ao longo deste percurso - mesmo utilizado no Círio de Nazaré - não há como não sentir a aura de estar na Amazônia. Os casarões antigos, centenários, expõem a historicidade da cidade, frutos da época áurea da borracha, repleto das belezas trazidas da Belle Époque. Avenida tradicional, nobre, chique, antiga... hoje também dá espaço para as construções modernas. Prédios dos anos 50, 60, 70 dividem o espaço com arranha-céus dos anos 2000, alguns dos mais caros da cidade. Andando pela Nazaré, temos a oportunidade de ver ainda, as sedes do Paysandu, com seu estilo modernista e a sede do Remo, em art decor; a sede da TV Liberal, imponente e bonita e as mangas caídas no chão. Ah... as mangas. Mangas que matam a fome do povo de Belém, desde um pobre mendigo até ao morador do Lago Azul ou do Greenville, não tem como não gostar de manga - mesmo aquela que caiu na cabeça da dona Maloca há uns anos atrás, ou aquela outra que quebrou o para-brisa do carro do Arnaldo. 
 E no fim da tarde? Vamos caminhar em frente ao colégio Nazaré, vamos tomar aquele tacacá maravilhoso que foi eleito, de novo, pela VEJA BELÉM como o melhor tacacá da cidade. Tá muito caro? Não tem problema... olha, eu vou te dar o papo, tem uma outra tacacazeira, alí em frente ao CAN, é o tacacá da Paraense. Égua, mano, é muito gostoso. Depois a gente pode dar uma volta pela praça santuário, mais conhecida como CAN (Centro Arquitetônico de Nazaré), damos a voltinha por alí e aproveitamos pra entrar na Basílica, admirar todo aquele interior magnífico... ah, és católico? Então aproveita e assiste a missa das 18h.
  Poxa, já tá ficando tarde. Ainda tenho que passar no Líder pra comprar o pão... até a próxima postagem, já me vú!



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

"Metrópole fincada no meio da floresta"

"Metrópole fincada no meio da floresta" | Esta é, de certa forma, a melhor definição para entender o que é a cidade de Belém do Pará. Santa Maria de Belém do Grão-Pará, nome nobre, popularmente conhecida no país como Belém do Pará, Belém, Belénzinha, Terrinha, Cidade Morena, Cidade das Mangueiras, Paris n'América, Cidade das Águas. Belém, terra de encantos, mistérios, cores e sabores únicos, os quais não são encontrados em nenhum outro lugar do mundo, do Brasil, da Amazônia, do Pará.
Como pensar Belém? Como escrever Belém? Como analisar, fazer crônicas... como viver Belém?
Quente, úmida, chuvosa, única, original. A cidade que oferece de tudo, um pouco; cidade que encanta, que brilha nos olhos de quem vê, que conquista com as suas particularidades que só quem conhece, sabe; cidade onde marcam-se encontros após a chuva, onde existe seguro contra as mangas que caem nos carros, cidade da maior procissão católica do mundo, do tucupi, do licor da jamburana, da Fafá, da Lucinha, da Gaby, da dona Onete, da Banda Calypso, do Nilson, do Edilson, do Roberto "Papudinho" Villar. Encerro, então, esta postagem com um trecho da música "Bom Dia, Belém", a qual cai muito bem neste momento.

Belém minha terra, minha casa, meu chão
Meu sol de janeiro a janeiro a suar
Me beija, me abraça que eu quero matar
A doída saudade que quer me acabar
Sem círio da virgem, sem cheiro cheiroso
Sem a "chuva das duas" que não pode faltar
Cochilo saudades na noite abanando
Teu leque de estrelas, Belém do Pará!