sexta-feira, 29 de março de 2013

Um Passeio de Barco


Morei por quatro anos num lugar chamado Vila dos Cabanos, também conhecido como a Nova Barcarena, distrito do município de Barcarena. Quase todo mês eu ia com a minha mãe para Belém, fosse para visitar os parentes ou somente para comprar aquelas coisinhas que a gente só encontra na capital.
Para chegar até Belém, nós íamos sempre de barco, já que a Alça Viária ainda não havia sido construída. Lancha, barco e balsa... quando o meu pai ainda morava conosco, sempre pegávamos a balsa. Nos outros momentos, geralmente usávamos a lancha por ser mais rápida. Em menos de 50min a gente já estava na mangueirosa. Mas o que eu gostava mesmo era do barco, se eu não me engano, a empresa era a Jacumã.

O barco era grande, tinha dois andares e saía do porto rumo à Belém sempre naquele vento constante. Durante a viagem - que levava em torno de 1h10min - passávamos por diversas ilhas e, nessas ilhas, eu podia ver aquelas casinhas lá ao longe, no meio da mata, longe de tudo. Ficava me perguntando sobre como seria a vida das pessoas que ali moravam, se eram felizes... nunca consegui entender como aquelas pessoas preferiam morar no meio do "nada", a ficar em um centro urbano. Hoje em dia, obviamente, meu pensamento já mudou. Algo que eu adorava ver eram aquelas enormes torres de energia que atravessavam os rios. Achava aquilo uma coisa fantástica, linda.
De vez em quando, aquelas canoas passavam ao lado do barco grande, os ribeirinhos ficavam acenando e as pessoas retribuíam o aceno - é algo bastante único, que talvez só seja encontrado na região amazônica.
Ah, já ia me esquecendo. Imagina só se eu ia deixar de falar dos mururés, aquelas plantinhas que ficam boiando nos rios. Mas lá era meio que diferente. No caminho para a cidade a gente encontra um conjunto desses mururés boiando, tornando a paisagem ainda mais bonita, pra mim. Era engraçado porque eu via aquilo e morria de vontade de tomar banho ao lado de um daqueles, adoro o contato do verde com a água. Por isso, a minha mãe ficava me dizendo "mas meu filho, isso daí é comida de jacaré, fica cheio de jacaré embaixo desses mururés só esperando a perninha das crianças que mergulham lá perto" - logo, eu ficava morrendo de medo.
Passado um tempo, eu subia para a lanchonete do barco, comprava um cheetos e voltava pra perto da minha mãe para admirar a beleza dos rios e das ilhas. Lembro de uma viagem, em especial, em que o boné que eu estava usando voou pra longe, por causa dos fortes ventos. Nessa hora, já conseguia avistar Belém lá ao longe, os prédios tão pequenos iam ficando maiores a cada momento. A cidade se aproximava e eu me animava porque ia poder chegar logo na casa da minha tia, ia poder ir ao shopping e também passear na Praça Batista Campos. Anos e anos depois, estou aqui escrevendo sobre estes bons momentos. Não vou mentir, sinto saudade dessas viagens de barco, mas só das de barco - a balsa demorava demais no percurso e eu fiquei traumatizado com a lancha porque uma em que eu estava acabou afundando em um dos "furos", sorte que ninguém morreu e vinha uma outra lancha logo atrás - sinto saudade de ter esse contato mais íntimo com os rios. E também fico aqui me perguntando... por onde anda aquele boné?

Um comentário:

  1. QUE RESPOSTA VOCÊ MARCARIA. PROVA DO IFPA, PELA FUNRIO:
    “Morei por quatro anos num lugar chamado Vila dos Cabanos, também conhecido como a Nova Barcarena, distrito do município de Barcarena. Quase todo mês eu ia com a minha mãe para Belém, fosse para visitar os parentes ou somente para comprar aquelas coisinhas que a gente só encontra na capital.
    O barco era grande, tinha dois andares e saía do porto rumo a Belém sempre naquele vento constante. Durante a viagem, que levava em torno de 1h10min, passávamos por diversas ilhas e, nessas ilhas, eu podia ver aquelas casinhas lá ao longe, no meio da mata, longe de tudo. Ficava me perguntando sobre como seria a vida das pessoas que ali moravam, se eram felizes... Nunca consegui entender como aquelas pessoas preferiam morar no meio do nada a ficar em um centro urbano. Hoje em dia, obviamente, meu pensamento já mudou. Algo que eu adorava ver eram aquelas enormes torres de energia que atravessavam os rios. Achava aquilo uma coisa fantástica, linda. (Rudá Frias, “Crônicas da Cidade Morena”)
    O cronista diz que “obviamente” seu pensamento, hoje em dia, mudou. Por que, para ele, isso é óbvio?
    A) Porque sua família sempre ia direto para Belém e não parava naquelas ilhas.
    B) Porque morar em ilhas, além de desconfortável, é muito perigoso e insalubre.
    C) Porque é um adulto esclarecido e dotado de senso crítico sobre a realidade amazônica.
    D) Porque, quando criança, via aquelas pessoas de um modo que, agora, não considera adequado.
    E) Porque os barcos ficavam à distância das ilhas e não permitiam ver a realidade como era de fato.

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