domingo, 21 de abril de 2013

Domingos


   Num certo domingo de tarde, eu estava lendo o livro de crônicas Aruanda, escrito pela eterna Eneida de Moraes e, no capítulo intitulado Pé de Cachimbo, a paraense discorre sobre o dia de domingo, os sabores e dissabores desse dia tão único - seja para o bem, seja para o mal. Decidi, então, escrever um pouco sobre os domingos na capital paraense, relembrando um pouco a minha infância, época em que eu achava que esse dia era o mais chato da semana. Hoje vejo que este é um momento especial para os que moram em Belém, pois os costumes que existem nesse dia são únicos, unicamente amazônicos, paraenses e belemenses. 
   O domingo é aquele dia bem inusitado, a gente não quer que ele comece, mas também torce pra não acabar tão cedo. Em Belém não é diferente, mas alguns aspectos locais tornam esse dia um pouco mais especial. 
   Logo cedo a gente compra o jornal do dia. Ou vamos naquela banca da esquina, ou esperamos o gazeteiro passar vendendo O Liberal, o Amazônia ou o Diário do Pará. Jornal dia de domingo é mais legal: tem agendas culturais, cadernos pras crianças, pras mulheres, tem a revista da TV, as colunas sociais e até algumas crônicas - não poderia ser melhor. Comprado o jornal, pulamos para o café da manhã. 
    Como é o café do domingo?
   Não pode faltar aquela tapioquinha com manteiga ou a banhada no leite de coco, sobre a folha da bananeira. Chato é ir nas casas de tapiocas e encontrar enormes filas pra comprar o produto. Mas pensando bem, é algo que só em Belém tem, é uma tradição que perdura desde o início do século passado: as senhoras fazem as tapiocas no próprio fogão, no máximo com a ajuda dos filhos e, como o produto é gostoso, sempre lota. Então, voltamos para casa, arrumamos a mesa, acordamos todo mundo e vamos tomar o café, comer as tapioquinhas e quem sabe até um cuscuz? Eu nunca fui muito fã desse prato, preferia a tapioca com manteiga e um pãozinho bem quente. Depois os nossos pais sentavam nos sofás, abriam os jornais e ficavam lendo. Liam, liam e liam por horas. Na TV só tem porcaria, até nas por assinatura - domingo é um péssimo dia para se assistir televisão.
    E à tarde, fazer o que? Muita gente saiu da cidade pra curtir o fim de semana em Mosqueiro, Cotijuba, Salinas, Vigia... Belém fica vazia, vazia. Se a chuva não caiu ainda, o calor então está pegando. A cidade está mais calma e silenciosa e nós podemos ir almoçar fora sem muitos transtornos. Tem o Pomme D'or lá do Parque da Residência, o Estação Gourmet, na Magalhães Barata, o Spazzio Verdi com aquela comida tradicionalmente deliciosa ali na Brás de Aguiar e os Remansos (do Peixe e do Bosque) no Marco, se tu tiveres um dinheirinho a mais no bolso. Tem também as famosas e boas churrascarias da Augusto Montenegro e, claro, aquelas peixarias que a gente só encontra na orla de Icoaraci.
    Shopping? Não, não. Domingo não é dia de shopping, a não ser que seja pra um cineminha. Hoje em dia a gente só encontra cinemas de rede nos shoppings. Mas existem outros lazeres. Que tal uma água de coco no trapiche de Icoaraci? Um passeio no Parque dos Igarapés? Uma volta pela Estação (das Docas)? Pegar um ventinho gostoso no Portal da Amazônia/Orla de Belém? Curtir um pouco a praça da República e comprar algumas coisas na feirinha dominical? Podemos até relaxar um pouco na praça Batista Campos. É só escolher, só não se diverte quem não quer.
    O sol vai se pondo e se a gente estiver perto das muitas orlas, não dá pra não curtir esse espetáculo, tomar um sorvetinho depois - Ice Bode e Cairu são pai d'égua - e aí sim, a gente volta pra casa. 
    Um dia chato, um dia monótono? Não em Belém! Os domingos mangueirosos são sempre inovadores, sempre tem algo pra se fazer. Se, com todas as opções, você não tá afim de sair de casa, com certeza você está recebendo os parentes pra um almoço, né? Ou então você tá indo visitar aquele primo na Pedreira ou sua tia em Nazaré...


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